A mando calado,
meu coração
já não faz questão
de, em vão, ser amado.
Vive como um hiato.
Não é o tipo ingrato
que come e cospe no prato,
como corre o boato.
O que ele quer de fato
é o tato da reciprocidade,
de olhos fechados se entregar
a todas as possibilidades
e explodir de amar.
No entanto
diante do desengano
começa a cogitar
se vale a pena arriscar
ver mais lágrimas rolando.
É instintivo.
Apreensivo, em seu canto,
sempre esbarra num crivo
e vira as páginas em branco.
Teme chegar ao fim do livro
e levar um espanto
diante de tanto cultivo
de amores paliativos.
Então pulsa reticente,
ruminando o que virá pela frente.
Provavelmente
ainda perderá outras chances
de saborear os capítulos
de improváveis romances
que acabarão sem título.
Mas não é ignorante,
como lhe disseram um dia,
é que amar não se aprende,
se não certamente
ele também aprenderia.
É até bem inteligente, eu diria,
tanto que consegue saber
que essa lágrima viria
antes mesmo dela escorrer.
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