quinta-feira, 6 de março de 2014

Sem título

A mando calado,
meu coração
já não faz questão
de, em vão, ser amado.

Vive como um hiato.

Não é o tipo ingrato
que come e cospe no prato,
como corre o boato.

O que ele quer de fato
é o tato da reciprocidade,
de olhos fechados se entregar
a todas as possibilidades
e explodir de amar.

No entanto
diante do desengano
começa a cogitar
se vale a pena arriscar
ver mais lágrimas rolando.

É instintivo.

Apreensivo, em seu canto,
sempre esbarra num crivo
e vira as páginas em branco.

Teme chegar ao fim do livro
e levar um espanto
diante de tanto cultivo
de amores paliativos.

Então pulsa reticente,
ruminando o que virá pela frente.

Provavelmente
ainda perderá outras chances
de saborear os capítulos
de improváveis romances
que acabarão sem título.

Mas não é ignorante,
como lhe disseram um dia,
é que amar não se aprende,
se não certamente 
ele também aprenderia.

É até bem inteligente, eu diria,
tanto que consegue saber
que essa lágrima viria
antes mesmo dela escorrer.

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