segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Abusada





Não, eu não odeio os homens 
Sou casada com um,
irmã de dois
e descendente de muitos
Só que nenhum deles pôde evitar
ou me proteger,
dos assédios, passadas de mão
Cantadas baixas e olhares de fome,
sob meu corpo carne.

Foi um homem que apertou a minha bunda
enquanto caminhava na rua,
aos doze anos, sequer tinha beijado na boca
e já o seduzi com a minha roupa
Pensei que a culpa fora minha,
quem mandou estar ali, sozinha?

Eu senti medo quando no ônibus
um cara sentou-se ao meu lado
para alisar as minhas coxas,
Eu quis gritar, mas só consegui chorar
e rezar, para que ele descesse logo

Eu não odeio os homens,
mas muitos dos que me entreguei
Tornaram-me descartável
Saciaram suas vontades
e depois me largaram

Mulher é objeto, de desejo
um tapinha não dói!
Tirar uma casquinha,
um abraço apertado,
uma encoxadinha básica
O tesão é insaciável
Pra que se sentir culpado?

Outrora fora cultural, 
aprenderam assim:
Exerça sua virilidade,
coce o saco e mostre sua masculinidade
não pegue numa vassoura,
cozinha é lugar das moças!

Enquanto me ensinavam
que devia me proteger: 
feche as pernas,
não use roupas curtas,
Dê-se o respeito
e quando for desrespeitada,
o melhor é ficar calada

Acabou a era do silêncio,
chega de achar que isso é normal
Não é uma guerra dos sexos,
não é em torno do seu pau
Eu não odeio os homens,
mas comecei a me amar mais.

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