As ruas clamavam
o direito à manifestação
em meio à competição
no país da bola murcha.
A bala de borracha
entrava em confronto
com o olho da marcha.
No conforto da situação,
mas cercado de amarguras,
Alguém ligou a televisão
para ver a cobertura.
Talvez visse o tudo pegando fogo,
não fosse a transmissão do jogo.
Com certa euforia o narrador dizia:
“somos um povo tão feliz,
esses baderneiros não vão destruir
um momento tão importante para o país”.
Alguém não se deixou iludir.
Alguém disse: foda-se o mundial.
Alguém quis mudar de canal,
mas percebeu um alvoroço,
tinha saído um golaço,
nosso, em posição irregular.
Na arquibancada,
ninguém pareceu se importar.
Alguém ficou perplexo
ao ver na TV seu reflexo.
Não conseguiu comemorar,
nem procurar algo alternativo.
Alguém achou melhor desligar
e ver a revolução ao vivo.
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