terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Falta plantar uma árvore

O amor incondicional
faz meu coração
bater cem vezes 
mais rápido que o normal 
e ainda assim 
mil vezes mais lento
que a pulsação 
de um grão
de vida espiritual
com apenas oito semanas
de ventre.

E já é para sempre.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Abusada





Não, eu não odeio os homens 
Sou casada com um,
irmã de dois
e descendente de muitos
Só que nenhum deles pôde evitar
ou me proteger,
dos assédios, passadas de mão
Cantadas baixas e olhares de fome,
sob meu corpo carne.

Foi um homem que apertou a minha bunda
enquanto caminhava na rua,
aos doze anos, sequer tinha beijado na boca
e já o seduzi com a minha roupa
Pensei que a culpa fora minha,
quem mandou estar ali, sozinha?

Eu senti medo quando no ônibus
um cara sentou-se ao meu lado
para alisar as minhas coxas,
Eu quis gritar, mas só consegui chorar
e rezar, para que ele descesse logo

Eu não odeio os homens,
mas muitos dos que me entreguei
Tornaram-me descartável
Saciaram suas vontades
e depois me largaram

Mulher é objeto, de desejo
um tapinha não dói!
Tirar uma casquinha,
um abraço apertado,
uma encoxadinha básica
O tesão é insaciável
Pra que se sentir culpado?

Outrora fora cultural, 
aprenderam assim:
Exerça sua virilidade,
coce o saco e mostre sua masculinidade
não pegue numa vassoura,
cozinha é lugar das moças!

Enquanto me ensinavam
que devia me proteger: 
feche as pernas,
não use roupas curtas,
Dê-se o respeito
e quando for desrespeitada,
o melhor é ficar calada

Acabou a era do silêncio,
chega de achar que isso é normal
Não é uma guerra dos sexos,
não é em torno do seu pau
Eu não odeio os homens,
mas comecei a me amar mais.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Dia do poeta


Hoje é dia do poeta,
alguém disse,
mas ontem também foi,
se você visse
aquele céu me dizendo oi

Me sorria aboborando
anunciando a aurora
de um novo dia perfeito
para uma poesia conceito
fora de hora.

Agora,
agradeço mesmo assim
o salve enviado a mim
e aos que disseram sim
a sina de amanhecer
imerso nesse universo
de invenções sem fim

que não se podem ver
com o coração fechado
pras palavras artesãs
que rimam manhãs
com o céu que tiver.

O amanhã, ainda na gaveta
(acredite se quiser),
também há de ser
dia do poeta.

(Foto: Muriel Xavier)

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Infelizmente

É que eu e meus colegas 
ourives
temos esse poder 
imprestável
de embelezar o invisível.

Um ofício passível de não agradar.

Ainda sim fotografamos
desenhamos e escrevemos
a fim de eternizar
toda poesia que resiste
ao veneno que persiste
destruindo poesias boas.

E eu entendo as pessoas
como você
que não gostam
de versos tristes.

Eu também gostaria
que eles não existissem.

São chocantes demais 
para expor na estante
mas infelizmente,
existem aos montes.

As vejo e ouço 
pois meu coração nunca aprendeu 
a se esconder no bolso 
como convém
quando essas poesias vem.

E sabemos muito bem
que elas nos veem também.

Como aquele homem 
ao lado do filho
entre o sol e o asfalto em brasa
que fugiu do gatilho
para o farol
da esquina da sua casa.

O viu?

terça-feira, 26 de maio de 2015

Não perturbe!

Poucos respeitam
a necessidade de descansar
(in)determinado tempo
trancado
no quarto do silêncio.

A maioria, 
sem intenção de entrar,
nem de incomodar,
vêm bater à porta
(com mãos de Alfaia)
querendo que você saia, 
a contragosto,
vestindo um sorriso
que, ninguém sabe,
já não mais te serve.

Deixei um aviso 
de “Não perturbe!”
em meu rosto, 
observe.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Sem assunto

Eu convido o mundo
para conversar sobre amor
e ele fica mudo,
com cara de tacho…

Não tem muito o que falar,
eu acho.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Bosta de poema

Sobre a privada
decidi tornar pública
essa poesia de merda
que por acaso
entupiu o vaso
e ficou lá boiando,
exalando e me olhando
com cara de bunda,
a procurar resposta
para esse poema de bosta
que não afunda.