terça-feira, 8 de outubro de 2013

Larbraço

Ontem o amor me ligou,
esbaforido, 
provavelmente andava 
enquanto falava comigo.

Perguntou como eu estava,
fingi que não entendi,
pedi a ele pra repetir
e depois, seco, respondi: ‘bem’
e ouvi: ‘eu também’.

Então por longos segundos
escutamos o silêncio um do outro.

Concordamos,
acanhados,
que há algum tempo
estávamos desligados.

Disse que gostei da surpresa,
mas que não esperava
após a saída à francesa.

Ele então sorriu, 
sabia que era verdade,
mas explicou que sumiu
contra a sua vontade.

Perdido pela cidade,
contraíra saudade
e dizia ter nome
essa memória com fome.

Meu peito se encheu
mas não amoleceu.

Com naturalidade 
(como se racional fosse),
disfarçou a alegria
ao saborear o doce
daquela voz que dizia, 
nesse citar de poesia,

que voltaria a ter asas,
e ser dono do calendário,
então lhe cedi minha casa
e pedi pra mim seu diário.

Combinamos de nos ver
e desligamos.
Ainda há pouco nos encontramos
entre o estar e o ser.

Assim que nos vimos
disfarçadamente sorrimos,
deixando transparecer
o que não cabia esconder.

Conversamos bastante
intensos instantes
seu olhar me fazia carinho
enquanto o meu repetia o caminho
que descia até seus lábios
torcendo pelo presságio
que infelizmente
não saiu da mente.

Diante da realidade,
na impossibilidade
dos acontecimentos,
não houve lamentos.

Deixou-me um pedaço
farto de mar e companhia,
e uma porção palavras,
as mais carinhosas que tinha.

Depois me entregou 
um abraço infinito
daqueles laços bonitos, 
bem apertados,
com tamanho significado
que não se pensa em soltar,
sob a pena de atrair azar
e nunca mais encontrar outro.

Eu não quis arriscar,
enlaçado ainda me encontro.

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