Há tempos apaixonado
Fernão já não sabe mais
Se pensa melhor no caso
Ou se tá esperando demais.
Forte,
e com tremenda falta de sorte
a vida inteira lhe faltou amor
Por duas vezes se casou
Mas nunca se apaixonou.
A primeira,
Dona Flor,
Ótima lavadeira,
mais parecia trepadeira,
deu para vizinhança inteira.
Era boa parideira,
qualidade que Fernão
Ao lamentar-se, junto a seu cão
Ressaltava, a sua maneira.
“Nisso era boa, aquela tranqueira”.
A segunda,
Raimunda,
Era feia de cara
e de corpo então,
nem se iluda
Não merecia um assobio,
tão pouco causava arrepio,
mesmo estando desnuda.
Fernão aguentou o quanto pôde,
até que num dia de sorte ela sumiu,
fugiu com o dono do Açougue.
“E eu que pedi a morte”
Pensou, espalmando o peito,
Lembrando o pedido feito
na noite anterior, em seu leito.
Essa ele superou rápido,
Mas pensou desejando ao máximo
que a paixão não mais o incomodasse.
Como isso não se escolhe
Hoje Fernão se encolhe
pra não entrar noutro dilema
Pois a meses a seco ele engole
Uma paixão que tem vida e nome:
Maria Madalena.
Linda mulher,
vale até um poema.
Bela silhueta, impecável cheiro,
Olhar brilhante, certeiro.
Acertou Fernão em cheio
Que relutou pra aceitar que o jeito
Era roubar ela do Bicheiro.
Há tempos apaixonado
Fernão já não pensou mais
Sabia o que ia fazer
E já tinha esperando demais.
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