Nem pai, nem mãe.
Quem te pariu menino, Brasil?
Roubaram-lhe a infância,
te impediram de sonhar
Esquecera da bola,
não gosta da escola
O sistema desenrola a cena
com protagonista que escolheu
Desigualdade do tamanho
do buraco do estômago
Por vaidade ou necessidade,
o crime seduz o moleque
De doze, no quinze três três
O jeitinho deu um jeito no sem jeito
Tattoo de malandro, nomes no braço
não mostra a falta do colo da mãe
Podaram-lhe as asas
Escolheram sua casa
Pés de chinelo, ninguém tem nada
O amarelo da parede não é alegre
Palhaço sem graça,
não faz criança sorrir
Liberdade rima com grade,
pro moleque da CASA
Nomenclatura não faz diferença
Pra quem não acredita em mudança
Teoria da desevolução
seleciona apenas o lado mais fraco
Internação sem transformação
Funciona para o nada que serve
Na terra de senhor e senhora
esquecem que somos tudo nóis
O respeito no aperto da mão
distancia os laços de abraçar
Mesmos panos, mesmos cabelos
Cela pra comer, dormir e cagar
Gente enjaulada,
quem protege o desprotegido?
Desapega das estrelas,
o sol não é bonito escondido
Saudade do mundão,
de tudo que não entra na cadeia
Formado com os parceiros
exclusão une a exceção
Já lhe tiraram tudo
mas só você é ladrão
Todo guri gosta de um pandeiro
pra bater a mão e mexer os pés
Recreio pra dar risada
ou não fazer nada a hora que quiser
Comida enche a barriga,
mas não preenche o vazio
Falta muito mais lá fora,
do que aqui dentro
Seu futuro é traçado
pra que corra pelo errado
Sair da linha
é confrontar as estatísticas
Aceitar a si mesmo
é mais difícil que aceitar os outros
Acostume-se com seu destino
ou tente mudar a sentença.
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