terça-feira, 28 de janeiro de 2014

FEBEM


Nem pai, nem mãe.
Quem te pariu menino, Brasil?

Roubaram-lhe a infância,
te impediram de sonhar

Esquecera da bola,
não gosta da escola

O sistema desenrola a cena
com protagonista que escolheu

Desigualdade do tamanho
do buraco do estômago

Por vaidade ou necessidade,
o crime seduz o moleque

De doze, no quinze três três
O jeitinho deu um jeito no sem jeito

Tattoo de malandro, nomes no braço
não mostra a falta do colo da mãe

Podaram-lhe as asas
Escolheram sua casa

Pés de chinelo, ninguém tem nada
O amarelo da parede não é alegre

Palhaço sem graça,
não faz criança sorrir

Liberdade rima com grade,
pro moleque da CASA

Nomenclatura não faz diferença
Pra quem não acredita em mudança

Teoria da desevolução
seleciona apenas o lado mais fraco

Internação sem transformação
Funciona para o nada que serve

Na terra de senhor e senhora
esquecem que somos tudo nóis

O respeito no aperto da mão
distancia os laços de abraçar

Mesmos panos, mesmos cabelos
Cela pra comer, dormir e cagar

Gente enjaulada,
quem protege o desprotegido?

Desapega das estrelas,
o sol não é bonito escondido

Saudade do mundão,
de tudo que não entra na cadeia

Formado com os parceiros
exclusão une a exceção

Já lhe tiraram tudo
mas só você é ladrão

Todo guri gosta de um pandeiro
pra bater a mão e mexer os pés

Recreio pra dar risada
ou não fazer nada a hora que quiser

Comida enche a barriga,
mas não preenche o vazio

Falta muito mais lá fora,
do que aqui dentro

Seu futuro é traçado
pra que corra pelo errado

Sair da linha
é confrontar as estatísticas 

Aceitar a si mesmo
é mais difícil que aceitar os outros

Acostume-se com seu destino
ou tente mudar a sentença.

* Para os meninos da Casa Guayi e Casa Guarulhos

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