Quem foi
melhor,
pergunta o
televisor,
Raí ou
Sócrates?
Talvez Aristóteles
pudesse
resolver
o problema
desse poema
caroço
entalado em minha
garganta.
Será que ele
teria a resposta?
De bate
pronto, eu não tenho,
então me
sento de costas,
mas finjo
que me entretenho
para não
chamar atenção.
A questão é
que todo almoço
é o mesmo
alvoroço
em qualquer
restaurante que se preze,
não há um dia
que reveze
e não adianta
se esquivar.
Tentei
inúmeras vezes
e por mais
que eu me enfeze,
a pergunta
ainda fica no ar:
Quem é o melhor,
Messi ou
Neymar?
Se digo que
não sei,
sou chamado
de gay,
se digo que
não me importa
dizem que
não sou patriota.
E realmente
não sou,
mas me faço de
idiota,
fisgado pelo
anzol,
fico ruminando
em bemol
essa
importante questão.
Querem minha
opinião
ou minha
alienação?
Segundos
depois
uma nova preocupação:
prefere qual
seleção,
a de 70 ou
de 82?
Prefiro um
pouco de arroz
e uma porção
de batata,
mas sinto
que essa dúvida consome
mais até do que
a fome
que mata
os que morrem
de frio.
E assim é em
todo Brasil,
faça chuva,
faça sol,
a realidade
de nossas vidas,
inexoravelmente
é esquecida
em debates
sobre partidas de futebol.
Comentários
baratos
norteiam
programas machistas
onde ex-jogadores
e comentaristas
se mostram especialistas
em boatos
e polêmicas
moralistas
que escondem
a realidade
e impedem
que a verdade
saia de vez
do armário.
Eles tem o
poder,
jogam sem
adversários,
mas tudo que
querem saber
é quem foi
melhor:
Ronaldo ou
Romário?
Difícil
responder
a essa questão
acadêmica
e profunda.
Enquanto
isso,
a propaganda
endêmica
toma o lugar
da redonda,
que vira
piada
daquelas bem
engraçadas,
para quem
está do lado de lá da tela.
Do lado de
cá, na goela
um teco de
carne de segunda
passada
com suco de
arroz e feijão
descem como
um riacho seco
garganta
abaixo
para morrer no
vão do estomago,
âmago de
todo problema.
Esse sistema
digere
nosso poder
de contestar
fazendo-nos inverter
o que deveríamos
priorizar.
Quem é capaz
de enxergar
e romper a
aliança
com seu time
que acaba de ganhar
e assumir a
liderança?
Sumiram com
a minha esperança
naquela paixão
nacional
incutida, em
mim, na infância
como herança
patriarcal.
Todo o amor
que eu tinha
passou a
enxergar bem
e notou que
dentro das quatro linhas
ninguém mais
enfrenta ninguém.
São todos do
mesmo time,
no mesmo
crime
da bola,
orquestrado
pelos cartolas.
Vestem o
manto da elite
e querem que
a gente acredite
torcer para
o maior do planeta,
(e outras
mentiras mais),
e assim
vendem suas camisetas
cm
logomarcas do capeta
por apenas
200 reais.
O sonho do
jogador
desse
futebol moderno
não é mais
com a seleção.
Desejam
vestir um terno
e trabalhar
na televisão.
Enquanto no
Brasileirão,
jogam de
olho na Europa,
afinal, de
lá sairão
nossos
representantes na Copa.
Como num
filme repetido
esse produto
divertido
nos mantém entretidos
nos mesmos debates
batidos,
desde a TV
sem cor.
Mas poderia
ser pior,
apesar de
estarmos na lona,
não considero um mal resultado
vivendo sob o reinado
vivendo sob o reinado
de Pelé e do
Maradona.
Um dia a
verdade vem à tona,
até lá,
seguimos na zona
contabilizando
vexames,
assistindo programas
infames
e discutindo
quem foi melhor:
Zico ou
Zidane?
Eu e você
que se dane!
Nenhum comentário:
Postar um comentário