terça-feira, 12 de novembro de 2013

Aos homens de bens

Eu não mordo a fronha, 
só babo falo, mas preciso dizer 
que sinto vergonha em pertencer 
a esse gênero tão efêmero e mal resolvido 
que tem medo de ser confundido 
se abraçar ou beijar um indivíduo. 

Educado para valorizar o umbigo, 
diz farsas e não diz eu te amo a um amigo. 
Nega que ganha privilégios de graça, 
vê na força da mulher uma ameaça 
e na homossexualidade um perigo, 
e após lerem esse poema 
por certo arrumarão problema comigo. 

Não ligo, 
que façam barulho. 

Essa ostentação do caralho 
não é motivo de orgulho, 
pelo contrário, 
fomos criados para agir feito otários 
e reproduzir comentários 
de machos que se dizem alpha, 
exaltando uma virilidade beta. 
Uma gama de imbecilidades 
que na realidade mostra 
o que muita gente enrustidamente gosta. 

Espero que a morte (sem piedade) 
com toda sua feminilidade, 
abrace os que se julgam do sexo forte 
pra abusar sexualmente 
ou simplesmente se aproveitar de uma situação 
dentro de um vagão lotado. 

Um deputado propôs como solução 
isolar todas as mulheres 
e assim evitar confusão. 
Existe, porém, 
com relação a esse trem, 
também outra questão 
(que vai acabar caindo no vão): 
a legitimação desse apetite do Cão. 

Até quando vamos rezar a cartilha 
de que somos parte duma matilha 
que só faz expelir escarro? 

“Seja homem você também: 
exercite sua virilidade, 
largue essa pilha de louça, 
isso é responsa das moças. 
Saia pela cidade para fazer alvoroço. 
Acenda seu próprio cigarro. 
Ponha o braço pra fora do carro. 
Dirija como um piloto. 
Haja feito um escroto ao ver passar uma mulher. 
Finja realmente saber o que ela provavelmente não quer.” 

Fomos doutrinados assim, 
a enxergá-las como um pedaço de acém 
e assobiar como quem diz “vem”, 
mas cá pra nós, 
isso nunca rendeu nada a mim 
e acredito que a ninguém. 

Reproduzimos por ignorância, 
sem dar importância a essa arrogância 
que as provocam ânsia 
e faz com que mantenham distância 
por terem ciência que é a essência 
do que chamam de paumolecência. 

Quantas vezes nos pegamos 
exaltando que não vomitamos, 
que nunca, jamais, brochamos, 
que nós podemos trair 
já elas tem que se dar ao respeito 
não podem beber até cair 
pois nós tiraremos proveito. 

Escondemos sentimentos 
e optamos por mentir 
a confessar que amamos, 
choramos e esperneamos feito jumentos 
o fim de um relacionamento. 

Nessa busca por ser o mais gostoso 
vence o maior mentiroso, 
seja por ter comido mais mina 
ou gozado uma, dua, três
sem sair de cima. 

Volte Espertirina,
saque desse buque vistoso 
seu poderoso explosivo 
e o atire contra nós, homens nocivos, 
ditos de família, 
que temem ter filhas
ou filhos que usem rosa 

E traem suas esposas 
(uma vez por semana), 
com garotas de programa 
que, por não desfrutarem da nossa regalia, 
são chamadas de vadia, 
quando na realidade, 
vinte e quatro horas por dia 
são pessoas de verdade. 

Diferente dos meus demais, 
que quando convém, 
são homens de bem, 
quando não, são animais.

7 comentários:

  1. Palavras de um "Homem" de verdade!
    Parabéns, amei!

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  2. Ótimo texto! Tenho seguido o blog há mais ou menos 1 mês e cada dia mais me surpreendo com a qualidade dos textos.

    Parabéns pelo trabalho!

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  3. Sempre teu fã. Grande home, grande Poeta! Beijo merrmão. Jaime Queiroga

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  4. Parabéns. Adorei. Disse de forma artística (e acredito que não há forma melhor) o que muitos precisam ouvir... ou nesse caso, ler.

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  5. Muito bom! um texto que expressa o que muitas vezes falamos em tom de reclamação e sem muita repercussão,talvez, porque é dito por mulheres. Parabéns, vc conseguiu de forma leve e artistica o que veladamente é legitimado,mas não representa a maioria com alma pulsante seja homem,menino,mulher ou menina!

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  6. Boa noite, acabei de assistir vc no programa Art é arte, na TV Brasil e gostei muito. Parabéns!

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