terça-feira, 4 de junho de 2013

Maleducados


"Crianças?
Há muito deixaram de ser!
Quem mandou não estudar?
Não sabem nem escrever
mas já aprenderam a roubar!

E nego ainda defende!
Esses moleques tão formados,
têm que apodrecer, enjaulado,
quem sabe assim aprende.

E não adianta dizer
que não havia outro caminho
o filho do meu vizinho,
coitado, foi abandonado,
sofreu de um tudo,
mesmo assim não caiu no mundo."

É amigo.
Engolimos um discurso pronto,
no telejornal batido,
servido em busca de pontos,
e, pensado em nossos umbigos,
saímos reproduzindo
arrotadores de opinião
sem sequer refletir sobre a situação.

Nós criamos esse inimigo
negando-lhes passado,
presente e futuro digno.
Demos o mínimo do mínimo
quando muito, pão e abrigo, 
e ao invés de reparação,
pensamos em mais um castigo?

É evidente que uma lei
para redução da idade penal
não é para o filho rei,
você sabe e eu também sei,
eles têm imunidade legal.

Convenhamos,
conhecemos a arapuca,
nos negligenciamos
para repassar toda a culpa.

Os abandonamos
e vamos lhes condenar
por não conseguirem escapar 
do destino que nós mesmos traçamos.

Jovens talentos,
roendo ossos, sedentos,
entram cedo no esquema
por desenvolverem por dentro
uma disfunção tema de cinema:
nenhuma gota de medo 
do tão temido sistema.

A falsa política,
a farsa midiática
e a força elitista covarde
os querem na estatística,
até que não mais exista
distinção de maioridade.

Nessa insensatez,
temendo ser a bola vez,
pedem grades aos dezesseis.
Amanhã com doze, com dez,
quem sabe até na gravidez, 
talvez.

Defendo esse conceito
ciente de que estou sujeito
a uma bala escaldante no peito.
Me renderia um dilema
e outra manchete pro Datena.
Contudo, assumo esse risco,
não serei mais um omisso
a repassar o problema.

Recicle suas verdades
e clame as prioridades.
O homem já pisou na lua
e crianças ainda moram na rua.
Essa a realidade.

O sol atravessa a peneira,
porque insistir que não?
O que vai acabar com a sujeira
um tapete ou o esfregão?
E quando não couber na lixeira
faremos o que então?

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