segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Marginópole

Marginais transitam
na zona morta de manancial,
asfaltada, retificada,
intransitável marginal.

Não há margem nem espaço.
Diferentes espécies de aço
por metro quadrado plantadas,
paradas, posam para o retrato
de seu legítimo cartão postal:
o trânsito imperial.

Na dramática cidade,
onde a calamidade ecoa,
a previsão nunca é boa,
tudo vira tempestade
mesmo que caia garoa.

Nada combina 
com o som da buzina
emitida por tantos carros.
Não preenche a falta da cigarra
e justifica tanto cigarro.

No tráfego de Hollywood,
enlatados no engarrafamento,
o suicídio é mútuo, fortuito e lento.

Para brisa, fumo vento,
com seu dióxido perfume.
Ao verde dos vagalumes
seguir em frente, eu tento.

Como lesma, lenta
grudada no asfalto quente.
Busco alternativas de fugas, 
arrumo rugas e rusgas,
me faço sobrevivente.

A pressa é a maldição,
pra onde quer que siga
não há quem consiga
desacelerar o coração.

O nada se faz horizonte
entre pontes, favelas e prédios.
Afogo-me nesse tédio
pois sei que não há remédios
para a contradição em evidência:
encontramos a solidão
buscando a independência.

Há filas por todo lugar,
chegará o dia em que a poesia,
por não conseguir transitar,
cessará de vez sua labuta
de retratar a cidade bruta,
erguida por muitos filhos da luta
em prol de alguns filhos da puta.

Texto criado a partir do poema (abaixo) do poeta Daniel Minchoni. Trata-se de um projeto onde trocamos poesias para criarmos novas, a partir do temas estabelecido em cada poema enviado.

Sampaulo

a previsão é de

chuva fina no meu pára-brisas

.

os vagalumes costuram o trânsito

apago as cigarras. fumo mesmo assim

vendo o trâfego. marginal

.

do quarto pra sala o trânsito é lento

nos corredores 155km de engarrafamento

no menor metroquadrado com vista pra nada

.

nesta cidade

fila………..… de solidão

fila………………………….fila da puta.

Um comentário: