anuncia sua presença
para dali duas horas.
Depois da ventania
que derrubará
quarenta e sete
folhas secas daquela
árvore amarela,
donas de casa correrão
para tirar as roupas do varal,
achando ser só mais um temporal.
Os trovões ensurdecedores
se misturarão ao barulho
do morro descendo.
O neném acordará assustado,
mas antes que consiga gritar,
seu choro será silenciado.
José é que chorará,
a perda dos dois filhos
e da casa não acabada.
O menino temerá
o barulho dos raios
e a falta da mãe.
“Ainda bem que é final de semana”,
pensará a professora,
que foi à escola, só corrigir umas provas.
A diarista irá abandonar
suas economias, seus sonhos
e a conquista de ter tido um lar.
A pastelaria estará lotada
e é onde terá mais vítimas,
por ficar totalmente soterrada.
Francisca arrumará forças,
não se sabe de onde,
para pegar todos seus gatos.
Alice cuidará para que os irmãos
não ouçam o pai e a mãe morrendo,
enquanto esperam os Bombeiros.
Não dará tempo da cabeleireira
gritar para que suas clientes
corressem.
Fernando se sentirá um covarde
por não conseguir resgatar
a moça com quem ia se casar.
O pedreiro em meio aos escombros
irá sorrir ao se despedir
das paredes que ajudou subir.
Em apenas minutos,
muitos perderão tudo,
alguns ficarão com pouco
e todos estarão incompletos.
A terra, com a força da água,
levará tudo o que tiver pela frente:
entulhos de coisas, montes de gente.
Será impossível saber
onde cada coisa estava
antes da enxurrada.
Os vizinhos se unirão
para carregar móveis
ou contar corpos.
O repórter fingirá comoção,
ao perguntar à Zumira,
como foi perder a filha
O jornal vai por na capa,
na hora do jantar
e até no exterior da favela vão falar.
As casas serão restos
as ruas deixarão de existir
e o morro nunca mais vai sorrir.
Porém, a prefeitura, enfim,
irá disponibilizar,
um lugar seguro, pra essa gente morar.
Só esperar a chuva passar.
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