domingo, 5 de maio de 2013

Folhas secas


O cheiro da chuva, 
anuncia sua presença 
para dali duas horas. 

Depois da ventania 
que derrubará 
quarenta e sete 
folhas secas daquela 
árvore amarela, 

donas de casa correrão 
para tirar as roupas do varal, 
achando ser só mais um temporal. 

Os trovões ensurdecedores 
se misturarão ao barulho 
do morro descendo. 

O neném acordará assustado, 
mas antes que consiga gritar, 
seu choro será silenciado. 

José é que chorará, 
a perda dos dois filhos 
e da casa não acabada. 

O menino temerá 
o barulho dos raios 
e a falta da mãe. 

“Ainda bem que é final de semana”, 
pensará a professora, 
que foi à escola, só corrigir umas provas. 

A diarista irá abandonar 
suas economias, seus sonhos 
e a conquista de ter tido um lar. 

A pastelaria estará lotada 
e é onde terá mais vítimas, 
por ficar totalmente soterrada. 

Francisca arrumará forças, 
não se sabe de onde, 
para pegar todos seus gatos. 

Alice cuidará para que os irmãos 
não ouçam o pai e a mãe morrendo, 
enquanto esperam os Bombeiros. 

Não dará tempo da cabeleireira 
gritar para que suas clientes 
corressem. 

Fernando se sentirá um covarde 
por não conseguir resgatar 
a moça com quem ia se casar. 

O pedreiro em meio aos escombros 
irá sorrir ao se despedir 
das paredes que ajudou subir. 


Em apenas minutos,
muitos perderão tudo,
alguns ficarão com pouco
e todos estarão incompletos.

A terra, com a força da água,
levará tudo o que tiver pela frente:
entulhos de coisas, montes de gente.

Será impossível saber 
onde cada coisa estava
antes da enxurrada. 

Os vizinhos se unirão 
para carregar móveis 
ou contar corpos. 

O repórter fingirá comoção, 
ao perguntar à Zumira, 
como foi perder a filha 

O jornal vai por na capa, 
na hora do jantar 
e até no exterior da favela vão falar. 

As casas serão restos 
as ruas deixarão de existir 
e o morro nunca mais vai sorrir. 

Porém, a prefeitura, enfim, 
irá disponibilizar, 
um lugar seguro, pra essa gente morar. 

Só esperar a chuva passar.

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